quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

REPROVADO OU NÃO? QUAL O VEREDITO FINAL!




Estamos finalizando o ano letivo e com ele angústias da reta final, a aprovação ou reprovação escolar como pauta na escolaridade da criança. A reprovação de forma geral significa à criança o débito merecido pelo descaso com o estudo e, à família, o fracasso da criança e deles próprios. Para que essa situação conflituosa seja evitada muitas famílias se empenham na aprovação da criança, tentando socorrê-la com aulas suplementares ou estudando em equipe com a mesma. Esquemas fantásticos são montados que garantam a promoção daquele estudante na tentativa de reverter uma situação que, na maioria das vezes, se arrastou pelo ano todo.
Aprender envolve os aspectos físico, emocional, mental e sócio-cultural, mas para que esses sejam detectados em sua forma inicial, é imprescindível uma avaliação psicopedagógica clínica de um profissional qualificado.
Muitos são os motivos que levam uma criança a ser retida na série em que se encontra. A fala mais conhecida é que a criança é “preguiçosa”, que “flauteou”, que “fez na última hora”; mas não podemos generalizar e deixar de considerar que muitos aspectos norteiam a decisão escolar quando um aluno é retido.
São muitos os casos onde famílias se mobilizam para a aprovação do aluno dito flauteador, mas as causas de uma repetência são inúmeras e com raízes não transparentes aos olhos dos familiares ou aos olhos daquele que julga o conhecimento e desempenho do estudante sem um respaldo teórico e prático na área psicopedagógica clínica.
Nenhum professor ou pai se satisfaz frente uma retenção escolar, mas em alguns casos ela é necessária e eficaz, traz benefícios em curto prazo àquela criança que vem se arrastando desde o início do ano sem acompanhar o conteúdo programático ou, até de série em série, passando de um ano ao outro por atingir as notas mínimas necessárias, mas sem, contudo, estar preparada para a série seguinte e sem se enquadrar ao programa escolar especificado.
"Aprender" e "não aprender" estão em pé de igualdade na condição humana e fazem parte da realidade de cada sujeito que "sabe" algumas coisas e "desconhece" outras.(Júlia E. Gonçalves)
Abaixo alguns esclarecimentos que acredito serem pertinentes para expor as diferenças entre distúrbios, transtornos e dificuldades de aprendizagem, esclarecendo, a priori, que tais termos são comumente empregados como se fossem sinônimos, portanto, usados indistintamente, desde que se verifique algum problema ou falha relacionada ao ato de aprender(Gonçalves, J. E.):
A) Distúrbio de Aprendizagem: é uma alteração que se constitui em um obstáculo à aprendizagem, prejudicando e/ou impedindo que essa aconteça, mostrando assim que algo não funciona, não vai bem no sujeito.
Os distúrbios de aprendizagem (dislexia, discauculia, disgrafia, etc) acarretam geralmente problemas na área da linguagem oral, na leitura, na escrita, nos cálculos matemáticos, além do comprometimento emocional, daí a necessidade de se realizar um diagnóstico cuidadoso por profissionais competentes e especializados para que os encaminhamentos paralelos que se fizerem necessários, sejam realizados (neurologia, fonoaudiologia, psicologia e outros).
B) Transtornos de Aprendizagem: os portadores necessitam de atendimento multidisciplinar e individualizado por sua complexidade. Os transtornos podem ser decorrentes de falhas no processo do desenvolvimento humano, a partir da gestação ou após. Suas causas podem ser genéticas, neurológicas, neuropsicológicas ou psíquicas e ocasionam uma transformação no organismo, mudando seu curso, como nas síndromes de Down, Asperger, Tourett e outras.

C) Dificuldade de Aprendizagem
: está relacionada com as habilidades do ser humano, com aquilo que pode ser considerado fácil ou difícil para cada um.
Dificuldade é então, a negação ou a falta de alguma habilidade da pessoa para realizar determinada coisa, como não ver significado no conteúdo curricular, expectativas não correspondidas em relação ao professor, atitudes e práticas repressoras e autoritárias provenientes da família, professores e outros, falta de interação com o grupo, etc.
A habilidade é desenvolvida e aprendida, diferente da capacidade que é inata. Uma pessoa pode ser capaz, mas pode não desenvolver as habilidades requeridas para realizar uma determinada tarefa e, por isso, falta-lhe competência, o que é visto como dificuldade (Gonçalves J. E.). De acordo com o tipo, as dificuldades podem ser:
Dificuldade Reativa: observa-se que a reação da pessoa se dá de acordo com a situação por ela vivenciada - uma criança que troca de escola constantemente, outra que estuda onde existem falhas nos conteúdos curriculares, greves freqüentes interrompendo o processo didático, famílias que não estimulam a aprendizagem - nesses casos, a criança reage não aprendendo ou acaba por ter um desempenho muito baixo. Existe o desejo de aprender, mas as situações de aprendizagem não foram favoráveis ou suficientes para que aconteça.
Dificuldade Sintomática: existem SINTOMAS e SINAIS de que algo está perturbando ou prejudicando o processo de aprendizagem, o portador obteve todas as possibilidades externas para que sua aprendizagem acontecesse, porém, perde o desejo de aprender. É de origem interna ao indivíduo, gerada por questões não resolvidas em qualquer âmbito, que acabam sendo deslocadas para a área da aprendizagem. A dificuldade sintomática utiliza um mecanismo de defesa que Freud denominou de “deslocamento", porque o sujeito não consegue lidar com a situação traumática e apresenta um sintoma para substituir a angústia gerada por ela, por isso, é o psicopedagogo o melhor profissional para atender este sujeito, quando este deslocamento se dirige para uma situação escolar.
Sem a pretensão de esgotar o assunto, falo dos casos de maneira geral. A melhor solução para cada criança deve ser discutida entre a escola e a família.
Refazer um período não deve ser visto como punição, mas como passo necessário naquele momento, e para a maioria dos casos o envolvimento e apoio da família são de extrema importância para a aceitação da criança frente situação tão penosa, além de facilitar o próximo ano, visto as dificuldades, distúrbios ou transtornos dependendo do caso, serem acompanhados desde o início do ano letivo. A retenção muitas vezes considerada uma perda para a criança é, na realidade, tempo ganho em maturidade e confiança, impedindo que processos lacunares prejudiciais à aprendizagem sejam instalados impedindo que o estudante caminhe sozinho e seja autor de sua própria estória. Por outro lado, outras vezes a retenção não é a conduta mais acertada, pois poderá afetar ainda mais o processo da aprendizagem, que sobrecarregado pela baixa auto-estima da criança, encontra-se estagnado.
Para avaliar situações onde existam ou não dúvidas sobre a aprovação ou reprovação, sobre as facilidades ou dificuldades do estudante, a melhor atitude é procurar um psicopedagogo que através de instrumentos específicos avalia a situação do aprendente e, posteriormente, compreende os motivos do não-aprender e indica a terapêutica adequada, trazendo à criança, à família e à escola, a segurança que precisam para dar continuidade e reiniciar a próxima jornada com atitudes positivas que desenvolvam a auto estima e confiança desse ser que, envolvido com a problemática do “não aprender”, despreza o prazer do “aprender”.
(12/11 – DIA DO PSICOPEDAGOGO – PARABÉNS A TODOS DA ÁREA)

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Mogi Guacu, SP, Brazil
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